terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Violência na sala de aula afeta desempenho de professores

Colaboração entre famílias e Estado pode ser a solução

A sala de aula é lembrada por muitos adultos como aquele lugar da infância que existiu para aprender, encontrar os amigos e viver as primeiras experiências da vida. Hoje, para muitas crianças e adolescentes, a sala de aula virou um ringue de agressões físicas e verbais. E a vítima preferida de muitos são os(as) professores(as).
Cada vez mais abalados com esse tipo de situação, muito professores estão desenvolvendo distúrbios na saúde, abalos psicológicos e principalmente altos índices de estresse. E em situações mais traumatizantes, muitos pensam em abandonar suas profissões.
Em pesquisa realizada pelo APEOSP (Sindicato dos Professores de Ensino Oficial de São Paulo) feita com a participação de 2 mil professores, a violência nas escolas apareceu em quarto lugar como causa de sofrimento no trabalho, com 57,5% das citações.
A professora de 5º série Elaine Gerardi, 28 anos, passou por uma situação delicada: ”Eu pedi para que um aluno sentasse numa cadeira mais a frente, para que ele participasse da aula. Após eu repetir o pedido várias vezes ele mudou de lugar, mas quando me virei ele falou para eu me F...”. Segundo Elaine, o contato com a mãe do garoto foi feito, mas “não adiantou, pois a mãe demonstrou não ter autoridade sobre o filho”. Para ela “Os jovens atualmente tentam se auto afirmar em meio aos colegas. Infelizmente, esta auto-afirmação se dá através de atitudes de enfrentamento e desrespeito, na tentativa de demonstrar coragem, força e poder”.
Segundo Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente do APEOSP “a violência na sala de aula afeta muito, pois provoca insegurança e intranquilidade nos professores e os desfocam do seu objetivo principal, que é ministrar aulas com qualidade, beneficiando a aprendizagem dos alunos”.
A origem do problema inicialmente pode estar dentro de casa, com famílias desestruturadas e educação falha, mas o Estado também tem a sua parcela de responsabilidade. Segundo Maria Izabel “um dos fatores que contribuíram para o aumento da violência nas escolas foi a redução drástica do número de funcionários e a terceirização dos serviços de apoio. Os funcionários do quadro próprio da Secretaria conheciam os alunos e ajudavam a prevenir muitos casos de violência, percebendo mudanças de comportamento ou pessoas estranhas perto das escolas. Os profissionais terceirizados não têm vínculos com as escolas e há muito rodízio”.
E qual seria a solução? Para Maria Izabel “É preciso humanizar a escola, torná-la atraente para os alunos e possibilitar que cada unidade escolar discuta e implemente um projeto político-pedagógico que responda aos anseios de seus alunos e de suas famílias. Gestão democrática, com real envolvimento da comunidade escolar, é o caminho para reduzir a ocorrência de casos de violência nas escolas”.
O sindicato disponibiliza um site (http://www.apeoesp.org.br/), para eventuais denúncias e esclarecimentos sobre o assunto.

2 comentários:

Marcos Vinicius Gomes disse...

Trabalho no estado e sei disso. Minha estratégia-chamá-lo para fora da sala, passar-lhe um sabão pedagógico, afirmar que ele não está falando com seu pai, nem com sua mãe. Tem momentos que não dá para tentar ser bonzinho, levar para a análise psicológica reducionista, etc. É falar sério, respeitando as individualidades e evidente levando em conta a vida social do aluno. O que não dá é para relativizar, achar que ´normal, graças aos tempos modernos nivelar, tirando sua própria autoridade. Mas pra dizer a verdade, a escola é um reflexo do que está acontecendo fora dela, e o pior é que ela não está conseguindo evitar que estas coisas aconteçam, tanto lá dentro quanto aqui fora.

Talita Cruz disse...

Imagino que é complicado para um professor ter que lidar com esse tipo de situação, pois a educação tem que vir de casa. Apesar disso, o problema parece ser bem maior, visto que o Estado parece não se mover para resolver o problema. Espero que não precise acontecer muitas tragédias para que isso mude. Obrigado pelo comentário! bjs