quarta-feira, 27 de julho de 2011

Marcela e a caixa


Marcela sempre foi um exemplo de menina. Em casa, na escola, todos a admiravam pela sua delicadeza e simpatia. Estava sempre disposta a ajudar seus amigos e as pessoas próximas, afinal, todos precisam de alguém assim. E todos contavam com ela.
Mesmo depois de moça, ela continuava a ser muito prestativa, sempre com uma palavra compreensiva e um gesto de atenção.
Mas algo sempre intrigou as pessoas próximas de Marcela. Desde pequena, ela andava com uma pequena caixa de madeira em suas mãos. Ia com o objeto para todos os lados e dificilmente o soltava, a não ser para dormir, tomar banho ou comer.
Todos eram curiosos para saber o que Marcela carregava dentro daquele objeto, mas nunca se preocupavam muito, afinal, ela era uma ótima pessoa. E isso nunca interferiu na vida de ninguém.
Em um certo dia, Marcela estava sentada no banco de uma praça, com a caixa de madeira ao seu lado. Estava despreocupada, pensando em sua vida e nas pessoas, até que um senhor sentou ao seu lado. Imediatamente, Marcela pegou sua caixa.
O velho homem percebeu o gesto, e o achou familiar.
- Hoje está um dia bonito, não? - puxou assunto o velho.
- Sim, muito bonito - respondeu Marcela. O senhor costuma passear por aqui?
- Ás vezes...gosto de observar a movimentação da rua. E você?
- Eu o que?
- Costuma passear por aqui? - perguntou o senhor, com um sorriso divertido.
- Ah sim, ás vezes. O senhor vem sempre sozinho?
- Sim, eu gosto de ficar sozinho de vez em quando. As pessoas me cansam ás vezes.
Marcela arregalou levemente os olhos com essa afirmação.
- Como as pessoas te cansam? - ela perguntou.
- Na verdade, acho que não são as pessoas que me cansam. Eu já nasci cansado. Não fui feito para esse mundo, e olha que com a minha idade, eu já deveria ter me acostumado - sorriu o idoso.
- Isso deve ser...um pouco triste - disse Marcela.
- Bom, ás vezes é sim. Mas era muito mais triste quando eu era jovem.
- Por quê?
- Porque eu agia contra o meu instinto natural. Tinha muitos amigos, muitas pessoas em minha volta. Mas todos, apesar de próximos, eram diferentes de mim. Como eu era "minoria", sempre fui um pouco diminuído. Então, fui o ouvido amigo, o conselheiro...porque conhecia muito bem todos, mas ninguém me conhecia.
Marcela escutava atenta, e ao mesmo tempo um pouco assustada.
- E você não é mais assim? - perguntou.
- Sempre gostei mais de ouvir do que de falar, gosto de conhecer a história das pessoas. E foi com isso que aprendi ao longo dos anos que as pessoas passam a vida a falar, cobrar do próximo, olhar para dentro de si mesmas..travando diariamente pequenas lutas de ego. A grande maioria não percebe que age assim, afinal, estão de certa forma "cegos". Mas existem pessoas que não são tão cegas assim. Essas enxergam as atitudes alheias e as próprias de uma forma diferente, mais clara. E nessa luta, esses indivíduos acabam mais como "expectadores", que muitas vezes só escutam e aconselham...e vivem as suas lutas calados.
E ao contrário da maioria, esses dificilmente possuem alguém para escutá-los e aconselhá-los.
Marcela sentia seus olhos enchendo de lágrimas.
O velho continuou:
- Quando eu percebi que era um expectador, consegui direcionar melhor o meu olhar para as situações e pessoas "certas". Isso foi muito bom, tirei um peso que levava comigo o tempo todo. Era como se eu carregasse algo pesado..como uma caixa.
Marcela olhou para a sua caixa e começou a chorar, tocada por tudo que acabara de ouvir. O velho senhor então tirou levemente a caixa das mãos da moça, e disse:
- Não deixe o mundo te aprisionar. Viva e observe o que há de bom, mas faça isso com os seus olhos. Não importa se eles enxergam o que ninguém vê, o importante é que você vê.
Então Marcela deu um forte abraço no velho senhor, levantou-se do banco e partiu, com uma liberdade que nunca havia sentido antes.
O senhor observou a moça indo embora, com um largo sorriso de satisfação.
- Ela agora tem os braços livres. Agora sim, pode até voar...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Au Pair




Muita gente sonha em fazer um intercâmbio para aprimorar o inglês e conhecer outros países. Existem várias alternativas para que isso seja feito, entre elas, o programa conhecido como "Au Pair".
O termo vem do Francês, e significa "a par" ou "igual". Isso porque a(o) candidata(o) a realizar esse intercâmbio hospeda-se na casa de uma família do país escolhido para trabalhar e estudar, mas a relação não deve ser trabalhista, e sim, de acolhimento a um novo "parente". A grande maioria de estrangeiros aceitos no programa é de mulheres, já que para os homens são feitas mais exigências.
O trabalho a ser realizado pela "Au Pair" é obrigatoriamente o de babá. Eventualmente, também são delegadas algumas funções da casa. Durante o período de estadia nesse outro país, ganha-se uma bolsa de estudo de até 500 doláres (fornecida em parte pela família anfitriã) e o período de estadia é geralmente de um ano, com direito a férias remuneradas.
Tudo muito lindo, mas claro que são feitas infinitas exigências a esses candidatos. Eu visitei vários sites de agências. Alguns deixam bem claro que a pessoa terá que passar por entrevistas, testes psicológicos, referências de outros empregos, além de exigências específicas das famílias (já que são elas que escolhem o candidato). Quase um "Aprendiz". Outros fornecem menos exigências, talvez para não assustar tanto o candidato logo de cara rs. Segue um exemplo tirado do site Cultura Care Aur Pair:

Exigências

Ter de 18 a 26 anos.
Ter pelo menos 200h de experiência de trabalho com crianças.
Ter nível intermediário de inglês, suficiente para manter uma conversa.
Ter o segundo grau completo.
Ser flexível, madura, independente e positiva.
Ter carteira de motorista.
Não ter antecedentes criminais.
Ter boa saúde para ficar um ano fora.
Não ser fumante
Ser solteira e sem filhos

Para homens, além dos requisitos acima, são necessários alguns itens a mais:

Ter de 19 a 26 anos.
Ter pelo menos 1000h de experiência de trabalho com crianças na área de esportes. Ex: Professor de educação física.
Ter nível avançado de inglês.
Ter carteira de motorista a pelo menos um ano.

(Eu não entendi esse negócio de cobrar mais dos homens do que das mulheres. Será que pagam mais também?)

Existe toda uma burocracia, mas o valores me pareceram mais acessíveis do que de outros intercâmbios. Para quem tem coragem, disponibilidade (em todos os sentidos) e money, vale a pena a aventura.


*Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o Au Pair, segue um outro site: http://www.intercambiocultural.com.br/au-pair/

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Agosto - Rubem Fonseca



Acabei de ler no site da Folha que a minissérie "Agosto" vai ser reprisada no canal Viva. Ela foi exibida em 1993 e é uma adaptação do livro homônimo de Rubem Fonseca. Eu li esse livro e com certeza é uma das melhores obras que eu li na minha vida. Ela é uma mistura de ficção e realidade, que narra os últimos dias do governo de Getúlio Vargas e a investigação de um crime, comandada pelo comissário Mattos.

Na época, eu escrevi sobre o livro em um outro blog que eu tinha. Segue um trecho:

(...) terminei de ler um dos melhores livros da minha vida (Agosto - Rubem Fonseca). Não vou explicar a história toda aqui, mas o motivo de eu ter gostado tanto é o personagem principal, o comissário Alberto Mattos. Ele é um policial inteligentíssimo, corajoso e cheio de atitude. O comissário Mattos vive no meio da podridão, um mundo cheio de morte, mentira, tortura e não abaixa a cabeça pra ninguém. Briga, xinga, dá ordens e desafia todos com uma coisa que ninguém em volta tem, e que deixa todo mundo chocado: ele é insuportavelmente honesto. Digo insuportável porque é isso as pessoas honestas se tornam muitas vezes (na visão de alguns). Por que ser honesto nos dias de hoje? pra ser passado para trás, pra levar prejuízo? (...)


O comissário Mattos é interpretado por José Mayer. O roteirista da série é o próprio Rubem Fonseca, então as falas dos personagens na maioria das vezes são exatamente iguais a do livro. E isso é muito legal, porque os diálogos dos livros do Fonseca são inesquecíveis.

Para quem tiver a oportunidade de assistir, vale a pena.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Só uma passadinha

Oi galera!
Passando para deixar alguns recadinhos:

- Muito obrigada por todas as visitas e comentários. Nos últimos tempos eu notei que a participação de vocês aumentou por aqui e isso é muito importante para mim, de verdade. Ás vezes bate aquela insegurança, falta de criatividade...mas toda vez que eu lembro que pelo menos uma pessoa vai passar por aqui, eu me sinto na obrigação de escrever alguma coisa legal. Espero que vocês estejam gostando.


- Não sei se alguém reparou, mas eu coloquei um bloco de anúncios ali no canto esquerdo. Está bem pequeno porque eu não quis atrapalhar a navegação de vocês aqui no blog. Agora que eu estou "disponível no mercado de trabalho" (por pouco tempo, espero), gostaria de tentar ganhar um dinheirinho por aqui. Sei que isso será bem díficil (sou realista), mas se não for incomodar vocês...dá uma clicadinha lá, vai? rs.

- Só para lembrar, estou respondendo todos os comentários.


- E quem quiser me seguir no twitter ---> @litacruz

Bom, é isso. Espero que todos tenham um ótimo fim de semana! E pra finalizar, uma frase de Carlos Drumond de Andrade:




"Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que os outros me enxergam..."

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Prioridades



Todo mundo já deve ter percebido que a organização da Copa do Mundo no Brasil não anda tão organizada assim. Poucas obras foram realizadas, ainda não decidiram qual será o local de abertura, se constroem, se reformam, enfim, o negócio tá feio. A única certeza é que serão gastos bilhões de reais, que claro, sairão dos nossos queridos bolsos.
Apesar de já estar ciente de tudo isso, hoje uma coisa me deixou mais chateada. Eu soube que a universidade que eu estudo (Uninove) pretende ampliar o número de unidades e que o próximo campus seria construído em Itaquera. A Zona Leste de São Paulo, principalmente aquela região, é muito carente de universidades e seria ótimo que a população de lá não tivesse que atravessar a cidade toda para estudar (sem contar a geração de empregos). Maaas também me informaram que, com a construção do estádio do Corinthians no local, o preço dos terrenos na região aumentou demais, o que talvez não possibilite que a obra seja feita lá. Felizmente existe uma segunda opção, que também fica na Zona Leste.
Talvez um estádio traga mais crescimento financeiro para Itaquera do que uma universidade, mas eu que moro praticamente no bairro sinto que lá existem outras prioridades, que não tem a ver com futebol.

E outra, o transporte para chegar lá é péssimo, quase desumano (quem já pegou a linha vermelha do metrô em horário de pico sabe o que é isso). Mas isso é assunto para outro post :D