sábado, 2 de outubro de 2010

A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector


Clarice Lispector dispensa muitas apresentações. Nasceu na Ucrânia, mas se mudou para o Brasil ainda criança. Foi aqui que criou suas obras e sua história, e se tornou uma das maiores escritoras do Brasil. É também famosa por suas inúmeras frases e citações, que circulam na internet em perfis de orkut, twitter, facebook e blogs (inclusive nesse). Apesar disso, ela continua desconhecida para muitos leitores, pois muitos consideram a sua escrita hermética (que segundo o dicionário Michaelis, entre outros significados, quer dizer "De compreensão muito difícil"). Já havia lido alguns contos dela, e recentemente (finalmente) consegui ler uma de suas obras.

"A Paixão Segundo G.H" conta a história de uma mulher que após a demissão da empregada, resolve fazer uma grande arrumação na casa, começando justamente pelo quarto da ex criada. Ela imaginou que encontraria um quarto bagunçado e sujo, mas para sua surpresa, naquele quarto ela encontra coisas que jamais imaginaria. Na verdade o quarto é apenas uma referência, pois tudo se encontra dentro dela. Confesso que com certeza terei que ler o livro de novo, pois ele tem tantas nuances, sutilezas e detalhes que em uma única leitura fica impossível captar tudo. Tive que parar de ler várias vezes, porque em alguns momentos, o que estava escrito me fazia refletir tanto e olhar tanto para dentro que ás vezes eu pirava rs. Eu tenho uma visão muito particular sobre Clarice e ler esse livro me fez gostar ainda mais dela. Poderia ficar aqui escrevendo horas e horas sobre ela, mas claro que não vou fazer isso. Quem sabe um dia :)

Na abertura do livro, Clarice faz um pedido aos leitores da história. Na minha visão, todos que consideram Clarice Lispector "complicada", deveriam atender à esse pedido antes de ler qualquer obra dela. Pouparia muitas frustrações. Um trecho do pedido:


"Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo de que se vai aproximar". C.L


Dito isso, recomendo muito Clarice Lispector e a "Paixão Segundo G.H".


7 comentários:

Marcos Vinicius Gomes disse...

Clarice...muito existencial, muito 'ai, meu Deus, que vida tediosa de mulher de diplomata', muito 'classe média-alta'. Empregada doméstica no enredo? Hum...e quando retrata (sic) uma nordestina (sic) real (sic)? Socorro Graciliano!

Anônimo disse...

Essencial sua visal do mundo, apesar de mulher de diplomata, como disse nosso amigão aí em cima (que não vem a ser algo que inferiorize ela), prova ser uma grande escritora com pontos filosóficos. Nesse livro, o encontro de si mesma ao se rebaixar ao primitismo. Adorei muito o texto.

Quanto ao comentário acima: é aquele velho e mesmo pensamento que alguém rico não possa falar sobre a situação do pobre. Porra, se o rico tem condições de expressar e publicar essa revolta, seria uma injustiça ignorar o povo, como muitos autores fazem. Esse tipo de comentário é típico daques: "não ouço Guns n' roses por causa do Axl", querendo menosprezar a obra por causa do gênio. Ser seletivo tem seus limites na coerência...

Anônimo disse...

Nossa, adorei seu texto Tah, sempre muito perssuasivo e gostoso. Poucas pessoas conhecem o trabalho de Clarice profundamente, talvez por ser muitas vezes hermético, mas nada que as releituras e o coração aberto não solucionem este impasse. Bem, fica aqui meus elogios ao seu bom gosto...

Talita Cruz disse...

Clarice foi criada nas ruas de pernambuco, e com o olhar dela enxergou coisas que provavelmente nem quem estava do lado enxergava. Anônimo, se aparecer por aqui de novo e tiver blog, deixe o endereço. Gosto de retribuir visitas :) Muito obrigada a todos os comentários. Bjss

Marcos Vinicius Gomes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcos Vinicius Gomes disse...

Anônimo,

Não ressaltei, se você percebeu, o fato de ela ter sido mulher (ou ex- mulher) de diplomata como recurso indispensável para analisar a sua obra que é admirável. Apenas acho que ela trilhou caminhos onde não tinha ferramentas para representar a contento sua visão de mundo - cito o caso de 'A hora da Estrela'. Na minha opinião, Clarice é superestimada num campo onde os autores psicológicos são raros na literatura brasileira.

Marcos Vinicius Gomes disse...

Talita,

Ia me esquecendo de agradecer sua visita e comentário.
Abs.